Um país onde espreitava a Primavera,
mas em vez de ser bem recebida, como era habitual, alguns habitantes desse tal país pareciam pouco satisfeitos pela sua chegada. Sentiam-se a sufocar, pelo clima seco, pela economia seca. Chuva nem ve-la! A única coisa que os afogava não tinha água, mas era fruto de uma governação que meteu água à já muito tempo. Endividamentos que se sobrepõem como as folhas que desabrocham nas árvores nesta época primaveril.
Uns ansiavam pela chegada da chuva para que pudessem colher algo dos solos já queimados, para que os animais tivessem pasto e para que fosse possível chapinhar um pouco a situação económica do país, tornando algumas mentes mais "verdes", ajudando na procura de soluções viáveis para todos os tipos de seca.
Enquanto chovia e não chovia, eram mantidos activos os sistemas de rega. Pelo menos aqueles que regavam as almas (uns copinhos e o Benfica). Pois se assim não fosse todos os habitantes desse país seriam transformados em cactos, não só pelo deserto que o país se tornara, com a fuga de muitas pessoas, como também por todas as atitudes humanas que tornavam o ambiente vivido e o clima social cada vez mais espinhoso.
Apesar de todas essas adversidades havia quem continuasse à espera do Verão. Que por vezes espreitava. Porque embora não se esperasse que este fosse muito virtuoso, pelo menos seria um contributo para que aumentasse um pouco a alegria nacional, que mesmo que não se pudesse adquirir com umas caipirinhas e mojitos (comercializados a preços exurbitantes), mais que não seja adquiria-se ao ficar com aquele tom bronzeado que todos, ou quase todos, gostam de ter.
Nem que para isso fosse necessária uma espera obstinada, por dias mais brilhantes e solarengos, sob um céu bastante nublado (mas seco).
Fotografias: STEVE HIETT . Electric Fashion
M.M.
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